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Pavão Misterioso

Ano passado a Ciça Mora, minha curadora, lançou um desafio para os artistas, fazer uma obra inteiramente branca, tudo, tecido e linha, acabamento, tudo em branco, algum detalhezinho poderia ser em prata ou dourado, mas coisa pequena. Pensei bah, e agora, minha mente é colorida, tudo o que imagino tem cor, mas não poderia dizer não, não sou de fugir de desafios.

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Fui pesquisar, primeira coisa que pensei, anjos, mas claro que alguém iria fazer, pombas da paz ou do Espírito Santo, também seria muito comum, pensei vou ver os animais que são brancos, tem muitos animais albinos, na verdade acho que em todas as espécies isso pode ocorrer, daí lembrei do pavão branco, fui pesquisar sobre pavões, fiquei encantada com toda a história de fé e fantasia que está por traz do mito do pavão, não o branco mas em torno do animal pavão.

Na índia: Considerado um animal sagrado, ganhando até templos sagrados no país. É comumente encontrado nos jardins dos palácios e outros locais considerados sagrados.

Mitologia hindu: Sua imagem é caracterizada como uma divindade que traz prosperidade. Está associado à deusa Lakshmi: as penas representam suas qualidades: bondade, paciência, prosperidade e boa sorte. Sarasvati, a deusa do conhecimento, da fala, da poesia, da música, dos estudos e da sabedoria monta um pavão. Durante o inverno, todos os anos, as penas desse majestoso pássaro caem para que nasçam outras novas durante a primavera. Por isso o pavão se tornou símbolo de renascimento para muitas culturas, assim como a fênix. Na China e no Vietnã, por volta do século 13 até o século 18, o pavão se tornou símbolo de fertilidade e prosperidade. O povo chinês acreditava que o olhar do pavão poderia até engravidar uma mulher.

No Budismo, o pavão simboliza a pureza e as suas penas são usadas em cerimônias de purificação.  O pavão representa um “bodisatva”: aquele que transcende os venenos da inveja, raiva e ciúmes, é capaz de conviver entre as pessoas ajudando-as a obter a iluminação, sem se deixar contaminar pelo universo mundano.  Os budistas associam penas de pavão com abertura, pois estas aves exibem tudo ao abrirem suas caudas. Os budistas também atribuem enorme significância ao fato dessa ave se alimentar de plantas venenosas, representando a habilidade de crescer face ao sofrimento.

Na tradição sufi, ramo esotérico do islamismo, o pavão possui um importante papel iconográfico. Os sufis contam que quando a Luz se manifestou e o Self (o Eu Superior) viu sua imagem refletida num espelho pela primeira vez, ele viu um pavão com sua cauda aberta. Uma bonita história que tenta traduzir a magnificência e a pureza do Eu Superior através da figura do pavão. Ainda segundo o sufismo os “olhos” presentes na cauda da ave representam virtudes espirituais irradiadas pelo “Olho do Coração”.

No Xamanismo, o Pavão simboliza bondade, generosidade e magia. Ele possui um antigo conhecimento de magia e é capaz de trabalhar a energia para criar tudo o que se pretende. No Xamanismo Ancestral existe o Clã do Pavão, que rege o elemento Fogo.

Já a Teosofia considera o pavão como um “Emblema da inteligência de cem olhos e, também, da Iniciação”. É a ave da Sabedoria e do Conhecimento Oculto, segundo o Glossário de Helena Blavatsky.  O “olho” da pena do pavão é associado à glândula pineal, fazendo dele um símbolo da intuição e dos dons extra sensoriais.

O pavão branco simboliza o senso da bondade, generosidade e capacidade de abarcar a vida. De acordo com o site My Power Animals, a Ordem do Pavão Branco é uma antiga ordem de xamãs que descendem do planeta Vênus. Esses pássaros são vistos como protetores, já que eles guardam o templo da ordem em Vênus e gritam para alertar quando alguém está se aproximando.

Os pavões brancos eram usados para representar Jesus Cristo. Isso acontece porque o pavão é considerado um símbolo da morte, ressurreição e vida eterna, conceitos diretamente associados a Cristo. O pássaro também remete a atributos de Cristo, como realeza, glória e incorruptibilidade. Sua cor branca representa seu espírito santo. Representa o despertar, a espiritualidade e a luz, juntamente com a pureza de intenções de uma pessoa e sua fé.

Para os cristãos, o padrão de suas caudas adquiriu um significado de omnisciência, o Deus que tudo vê. O desenho da sua cauda representa as estrelas e o universo. Sua coroa semelhante a uma estrela de seis pontas simboliza sua magnitude e poder. É símbolo da eternidade, da imortalidade e da totalidade.

O pavão é uma linda ave originária da Ásia que encanta os olhos! No topo de sua cauda, que chega a ter dois metros de comprimento, em torno de 200 penas e se abre como um leque, em cada uma das fileiras de penas há um ocelo (pequeno olho) redondo, colorido e com uma aparência cintilante que confere às plumas uma beleza exótica. Sua cauda é uma arte viva que o ser humano cobiça, arranca, comercializa e utiliza para ostentar como objeto de enfeite, fantasia e decoração.

Sobre esta ave extraordinária, vamos saber mais:

Características e comportamento

O pavão pertence aos gêneros Pavo e Afropavo da mesma família dos faisões. Estas aves se alimentam de insetos, sementes, frutas e outros vegetais. O pavão roda na época de acasalamento para chamar a atenção da fêmea. A roda também tem outra finalidade e é utilizada pelo pavão como defesa para afugentar os predadores, com o seguinte mecanismo: ele abre a cauda em leque para aumentar seu tamanho e mostrar-se maior, intimidando o predador, mas logo que fica livre da ameaça fecha a cauda e sai de cena se afastando do perigo.

Acasalamento e Reprodução

Durante o período de acasalamento os pavões realizam um ritual , o macho se agita diante da fêmea para chamar a sua atenção realizando vários movimentos principalmente abrindo sua cauda em leque e emitindo gritos como sinal que quer acasalar com a fêmea. Quando o acasalamento ocorre, a pavoa põe entre 4 a 8 ovos, que chocam após 28 dias.

Dimorfismo sexual – Diferença entre macho e fêmea

Pavão-indiano: Macho: pescoço azul, com penas longas na cauda. Fêmea: pescoço de tonalidade verde, com resto das penas de cor cinza.

Pavão-verde: Macho: possui cauda bem longa. Fêmea: diferentemente do pavão-indiano, a fêmea do pavão-verde é igual ao macho, mas o que difere é sua cauda bem menor.

Pavão-do-Congo: Macho: é preto e azul possuíndo ocelos na ponta da cauda. Fêmea: suas cores são verde e cinza.

Curiosidades sobre os pavões

Pavão-bombom: É a ave com a maior cauda do mundo.

Pavão-sedentário: É o pavão que possui o pescoço mais longo.

Pavão-azul: É considerado sagrado na Índia e uma ave que teve admiração do Rei Salomão e de Alexandre, o Grande.

Pavão-branco: Esta espécie é branca devido à ausência de melanina, substância responsável pela cor das penas, por isso o pavão branco é considerado uma ave albina.

A lenda grega do Pavão

Zeus era esposo de Hera, mas um dia se encontrou com a ninfa Lo. Hera ia se aproximando do local onde Zeus e Lo estavam quando ele percebeu que iria ser pego em flagrante transformou a ninfa em uma novilha (vaca jovem). Suspeitando que estava sendo enganada, Hera pediu à Zeus que lhe desse a novilha de presente e, para não gerar desconfiança ele atendeu o seu pedido. Hera incumbiu seu fiel servo Argos, um gigante com cem olhos, para tomar conta e vigiar a novilha e mesmo dormindo ele a vigiava com metade de seus olhos abertos. Zeus para salvar a ninfa Lo pediu à Hermes que a libertasse. Tocando uma melodia, Hermes fez com que Argos adormecesse e fechasse todos os seus olhos. Hermes acabou tirando a vida de Argos e libertou a jovem. Hera soube da morte de Argos e ficou muito triste e para eternizá-lo ela pegou os olhos dele e colocou-os na cauda de seu pavão sagrado.

Um jovem chamado Adi queria ir em busca de mais conhecimento. Seu professor o orientou que ele fosse para o sul e descobrisse o significado do pavão e da cobra. Depois de uma longa trajetória, Adi chegou ao Iraque, onde conheceu esses animais. Ao conversar com eles, Adi resolveu falar sobre os méritos de cada um. Ao que o pavão disse ser o mais importante por simbolizar o Ser, a aspiração, a beleza celestial, o conhecimento das realidades mais elevadas que estão ocultas no ser humano.

A cobra, em contrapartida, disse que ela simbolizava tudo que o pavão havia descrito, mas além disso ajudava o ser humano a recordar de si mesmo, por ela viver sobre a Terra. Não concordando com a cobra, o pavão ainda disse que ela era perigosa e dissimulada. Em resposta ao pavão, a cobra disse que tinha muitas qualidades e que não só ela tinha defeitos, mas ele também, pois era era vaidoso, ostensivo e esquisito. O jovem Adi ao testemunhar a discussão, resolveu intervir e disse-lhes que ambos representavam um ensinamento para a humanidade.

Adi disse que o ser humano se parece com a cobra que rasteja no chão, mesmo tendo capacidade de se elevar. E para o pavão, Adi disse que o que impede o ser humano de ascender é a vaidade, como a que a ave demonstrava.

E para concluir, Adi disse que ambos, pavão e cobra, representam potenciais do ser humano que não foram realizados e exaltados e isso serve como mensagem de sabedoria para o ser humano.

A Lição do Pavão

Existem momentos, como quando o pavão abre sua cauda, que precisamos nos abrir e mostrar nossa luz e apresentar nossas potencialidades ao mundo. Como o pavão precisa trocar suas penas, nós precisamos mudar nossa forma de ver a vida. Tem fases que precisamos nos renovar, substituir nossas velhas crenças por novas ideias, expandir nossa consciência e ampliar nossa realidade!

Bom mas onde entra o meu Pavão Misterioso? Aqui:

Pavão Mysteriozo é uma canção composta pelo cantor e compositor, Ednardo, que teve grande projeção após sua utilização como tema da telenovela “Saramandaia” (1976), havendo hoje mais de 20 regravações. Inspirada no folheto de cordel intitulado “O Romance do Pavão Misterioso” de José Camelo de Melo Rezende… Nosso maior escritor de cordel do Brasil, Vale a pena pesquisar a obra dele.

Pavão Misterioso

Pavão misterioso, pássaro formoso
Tudo é mistério nesse teu voar
Mas se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história eu tinha pra contar

Pavão misterioso nessa cauda aberta em leque
Me guarda moleque de eterno brincar
Me poupa do vexame de morrer tão moço
Muita coisa ainda quero olhar

Pavão misterioso, pássaro formoso
Tudo é mistério nesse teu voar
Ai, se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história eu tinha pra contar

Pavão misterioso, meu pássaro formoso
No escuro dessa noite me ajuda a cantar
Derrama essas faíscas, despeja esse trovão
Desmancha isso tudo que não é certo não

Pavão misterioso, pássaro formoso
Um conde raivoso não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos, mas não podem voar

Romance do Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Rezende

A obra Romance do Pavão Misterioso é o maior clássico do cordel. Folheto mais vendido em todos os tempos, foi escrito por José Camelo de Melo Rezende no final dos anos 20. João Melquíades Ferreira da Silva tomou posse da história e a publicou como se fosse dele, antes de Rezende.

A palavra “romance” no título garante tratar-se de uma narrativa feita nos moldes tradicionais: tem 32 páginas, em versos de sete sílabas ou redondilhas maiores, e sua matéria diz respeito a uma aventura de amor e de heroísmo.

O enredo do Romance do Pavão Misterioso é a aventura de um rapaz, chamado Evangelista, que ao contemplar a beleza de Creuza, donzela conservada prisioneira pelo conde (seu pai), sente-se invadido por um forte desejo: tirar a moça do sobrado do conde e tomá-la como mulher. Evangelista foge com Creuza, ajudado por um pavão mecânico, que um amigo constrói pra ele poder roubar a moça. Uma história linda de amor que quebra com preconceitos, e apesar de todos os obstáculos é vivido em plenitude.

A música Pavão Misterioso cantada por Ney Matogrosso virou um hino na luta por liberdade da ditadura nos anos 80 no Brasil, assim como várias outras, as multidões iam para a ruam manifestar e cantar, era uma forma de dizer tudo de uma maneira velada para que não fossem hostilizados e presos.

Eles são muitos, mas não podem voar.

Isso pra mim foi o que realmente definiu a escolha deste tema para meu trabalho, porque seria uma exposição política, de protesto a vários assuntos que hoje nos afligem como sociedade, como democracia, como humanos.

A Exposição “A Supremacia Obscurantista do Branco”, foi um sucesso, eu fiquei maravilhada e muito honrada por ter feito parte.

A exposição foi montada em uma sala completamente preta, com algumas luzes negra que a Ciça instalou para interferir nos trabalhos totalmente brancos. Isso deu um efeito fantástico aos trabalhos, pena que a exposição ficou aberta por pouco tempo na feira da Brasil Patchwork e Scrapbook Show da WR SP eventos, em São Paulo, e logo veio a pandemia o que adiou os convites para levar para outros locais.

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